Monday, August 27, 2007

Mendigar sim, mas com moderação

Deu no jornal: o Ministério Público de Minas Gerais está processando "falsos" mendigos. Ou seja, pessoas que, teoricamente, não deveriam estar mendigando (afinal de contas, quem é que deveria estar mendigando?). Alguns órgãos de impressa noticiaram o fato com destaque, mostrando que um dos processados, inclusive, chega a ganhar "três mil reais por mês".

UBERLÂNDIA-MG FAZ CAMPANHA CONTRA 'FALSOS MENDIGOS'
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,AA1616001-5598,00.html

Falso mendigo tem até casa com DVD em MG, diz promotor
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL93094-5598,00.html

Eis que mendigar é contravenção penal prevista na legislação brasileira. Mas qual o critério para definir quem é mendigo legítimo e quem é falso? A julgar pelas notícias, trata-se uma questão de valores. Quem é bem-sucedido no sinaleiro é falso. Quem consegue arrecadar pouco, é verdadeiro.

Afinal de contas, existe um critério para se definir quem pode mendigar? Quem mendiga, acredito eu, o faz por falta de opção. Ou será que ficar o dia todo no tempo, sujeito à violência das ruas, a chuva, ao mau-humor dos motoristas é o sonho de carreira de muita gente? Sem falar na concorrência com os argentinos, uruguaios e paraguaios mambembes, que brincam com bolas, varas em chamas e coisas do gênero em busca do nosso um real.

Mas, pelo visto, o Ministério Público mineiro não se incomoda com aqueles que conseguem arrecadar pouco. Apenas com os que "tem casa com DVD". Esses são os verdadeiros criminosos. Porque perturbam nossa paz naqueles sagrados minutos que gastamos no trânsito. E porque ousam ganhar dinheiro com isso.

No entanto, o que me intriga mesmo é: afinal de contas, está o MP de Minas tão sem ter o que fazer assim pra buscar novos alvos nos sinaleiros?

Thursday, August 16, 2007

A história da candidata que sumiu

Ingrid Betancourt era senadora na Colômbia e candidata a presidência em fevereiro de 2002. Em campanha, ela circulou pelo país defendendo o combate à corrupção e ao tráfico de drogas. Acabou sendo capturada pelas Farc - Forças Revolucionárias da Colômbia.

Essa semana se completam dois mil dias de cativeiro da candidata. A família dela, incluindo o ex-marido e os dois filhos, Melanie e Lorenzo, luta por uma intervenção do governo que permita a liberação de Ingrid e sua assessora, Clara Rojas. No entanto, parentes e amigos tem poucas notícias da sequestrada.

Acredita-se que ela ainda está viva porque recentemente as Farc liberaram um vídeo da candidata. De resto, só existem boatos. Alguns dos quais dão conta de que Ingrid estaria escondida na Amazônia, na Venezuela ou até mesmo no Brasil.

Conheci a história de Ingrid ao assistir um documentário sobre ela na TV Cultura, no tempo em que fiquei sem TV a cabo em casa. Lembro que, na época, fiquei pasma de notar que, apesar de ser um tema importantíssimo, não sabia de nada.

Quero dizer, um candidato a presidência ser sequestrado e mantido refém é uma grande notícia em qualquer lugar do mundo. Mas, nós brasileiros sabemos muito pouco sobre nossos vizinhos e, pelo que lembro, a história de Ingrid passou batida por aqui.

Espero que o sequestro de Ingrid não chegue a completar três mil dias.

- com informações do Terra Notícias

Wednesday, August 08, 2007

Somos bonzinhos demais?

Estive lendo esses dias um livro novo, chamado O Massacre. É de um jornalista das antigas, Eric Nepomuceno. E, segundo ele mesmo, foi escrito para não deixar cair no esquecimento o massacre de Eldorado do Carajás. Aquele em que 19 sem-terra morreram a bala no sul do Pará.

A polícia atirou para, supostamente, desbloquear uma estrada que eles tinham fechado para protestar. Era uma marcha até Belém, onde iam se encontrar com gente do governo para pedir terras. No meio do caminho, veio a idéia do protesto na rodovia para pedir comida. Foi o horror.
O livro é necessário. Não dá para esquecer uma coisa daquelas. E como sempre estamos ocupados com um novo escândalo, é bom lembrar de vez em quando de coisas que não devem ser apagadas. Como o Carandiru. Como a Candelária.

Tive a chance de entrevistar o autor por e-mail, para o jornal. E as perguntas que fiz não valeram grande coisa. Respostas treinadas, oportunidades para ele explicar o que todos já sabem. É difícil fazer perguntas que valham a pena. No meu caso, só uma acho que valia.
Perguntei a ele se, apesar de tudo, claro, ele não havia sido condescendente com o MST. O massacre era o que era: todos estamos do mesmo lado nesse caso. Mas o livro me pareceu tendencioso nos detalhes. Exemplo: o autor "confia" nos sem-terra quando eles dizem que algumas armas apreendidas não eram deles. "Confia" em outro testemunho que diz que um líder do grupo "só atirou para cima".

Ora, investigação é investigação. Jornalismo é jornalismo. A verdade, sempre que possível, deve ser publicada. Confiar na versão dos sem-terra por eles serem as vítimas não vale. Mesmo que eles tenham cometido erros, isso não justifica o crime da PM, do Estado, da PM. E seria necessário registrá-los.

Nepomuceno respondeu que não foi condescendente. Que o que escreveu foi o que pôde apurar. Mas fiquei com a pulga atrás da orelha. Como jornalista que sou - e de esquerda - fiquei pensando se às vezes não sou bonzinho demais com os personagens das minhas matérias. Sei lá.

Vocabulário Macabro

A cada tragédia que presenciamos aprendemos um pouco mais. Um volume grande informações sobre o que deu errado vem a nosso encontro. Todo um mundo novo se abre diante de nossos olhos.

Com a queda do avião da TAM, aprendemos que groving são canaletas abertas na pista do aeroporto para escoar a água e impedir problemas de aquaplanagem. Já conhecíamos o que era reverso de um outro acidente da TAM, que aconteceu em 1996, também próximo a Congonhas e matou 96 pessoas.

Da tragédia com o Boeing da Gol tiramos a lição de saber o que é transponder e porque ele não deveria estar desligado. Também fomos informados de que o controle aéreo não é tão controlado assim e viemos a conhecer todo um novo grupo de profissionais, os controladores, de cuja existência não tínhamos notícia até então.

No atentado de 11 de setembro conhecemos o Al Qaeda, Osama Bin Laden, Al Jazeera e outros nomes estranhos. Também viemos a descobrir a existência do Eixo do Mal e passamos a acompanhar a Guerra do Afeganistão (taí outro nome que não pertencia ao nosso vocabulário) e a do Iraque.

Quando o buraco do Metro de São Paulo se abriu para engolir sete pessoas foi a vez de nos surpreender com a notícia de que tais projetos não são seguros.

O triste é que mesmo com todas essas informações as tragédias continuam a acontecer. Todo dia assisto no Jornal Nacional um número crescente de pessoas contando que a pista de Congonhas não era segura, o avião da TAM estava com problemas, a pista do aeroporto não tinha espaço nenhum para o caso de acontecer um acidente. Por que, afinal, nada foi feito para evitar o pior?

Todas essas 199 pessoas morreram à toa. E agora só nos resta esperar para descobrir quais novas palavras aprenderemos com a próxima tragédia.

Aviso

Esse blog passou um bom tempo sem ser atualizado. Agora, volta com força. E com reforço. Somos dois: eu e a Rosiane, que não é por ser minha mulher mas é uma das melhores jornalistas da cidade. Só não vou dizer que é a melhor para não parecer que estou advogando em causa própria.
É isso aí. Visitem, comentem, recomendem. E viva nosotros!

Pensamento do dia

Os tucanos, com essa coisa de privatização, são mais ou menos como viciados em crack. Mal entram em algum lugar e já vão vendo o que podem pegar para vender.