Saturday, October 02, 2004

Itaú social

Fui pelo jornal cobrir a entrega de um prêmio do Itaú Social, em São Paulo. A iniciativa é muito legal. Deram prêmios para as melhores redações de crianças de escola pública de todo o país. Gente de 4.ª e 5.ª séries que levou para casa computadores e até bolsas futuras de estudo para a faculdade.

Muito legal. De verdade. A menininha do Rio de Janeiro, vinda de uma favela, teve o texto dela lido pela Zélia Gattai. Era sobre a discriminação contra quem mora no morro.

Conheci a piazada que participou e foi muito bom falar com eles. Um guri de Apucarana, que à noite só tinha arroz e feijão para comer, na maioria das vezes, sem mistura, como ele disse, viajou de avião, apareceu na imprensa, ganhou um computador.

Só que durante toda a cerimônia fiquei com vontade de dar uns berros lá de trás. Gritas: e os dois bilhões de lucro líquido do banco? Porque eles estavam gastando R$ 450 mil com o prêmio. E descontando isso, todas as outras ações sociais e culturais do banco, o imposto e tudo mais, ainda sobram dois bilhões de reais para o bolso deles.

E era meio grotesco ver toda aquela peruada por lá. As Milus Villelas da vida com roupas no valor do computador que eles estavam doando e que decerto seriam descontados do Imposto de Renda do banco. Os donos do Itaú desfilando, fazendo cortesia com os juros que cobram da moçada que mantém conta lá, que pegou um papagaio e não consegue pagar.

E toda aquela politicada, vice-governador, secretário de cultura, dizendo que eles eram o máximo.

Ora, é claro que é bom que eles façam algo. Mas R$ 450 mil eles gastam por semana em publicidade na Globo, eu acho. São uns dez comerciais de 30 segundos no Jornal Nacional.

E a entrega do prêmio é só a cada dois anos. Nos anos ímpares eles fazem oficinas, mas sem premiação.

Acho que estou ficando ranzinza.

Mas não gritei nada, não.