Saturday, September 22, 2007

A cultura do achismo

Estou relendo Rota 66, do Caco Barcelos. Deve ser a quinta vez que leio o mesmo livro (acreditem, não é o livro que mais reli na vida). Acho fantástica a forma como o autor constrói a argumentação a partir de fatos e de dados. O trabalho que ele deve ter tido arrecadando dados para a reportagem sempre me deixa embasbacada.
Rota 66 é uma daquelas reportagens que surgiu da suspeita do repórter. Barcelos achava que a polícia matava demais. Pesquisou, investigou e provou.
O jornalismo, no entanto, está povoado de uma cultura que vai no sentido oposto: o achismo. As pessoas acham muito. Mas, como diria uma ex-chefe minha: repórter não acha. Repórter suspeita, investiga e prova, ou não, a suspeita.
A cultura do achismo é algo enraizado na cultura brasileira. Todo mundo acha alguma coisa. No dia do acidente com o avião da TAM, todo mundo achava (e publicava exaustivamente) que a pista de Congonhas tinha sido a culpada pela fatalidade. Dois meses depois, não vi um só laudo que comprovasse tal opinião.
No caso do jornalismo diário, o achismo é ainda mais danoso porque não há tempo para investigações aprofundadas. O que se faz? Encontra-se uma pessoa disposta a achar o mesmo e pronto! Temos uma matéria/teoria pronta para ser publicada.
Resta saber qual o benefício para o leitor de tal exercício da criatividade.