Monday, May 30, 2005

Mondo Bizarro

Vocês já repararam como tudo hoje em dia tem que ser dito em linguagem empresarial?

Esses dias, o papa tinha morrido, e uma revista publicou uma matéria. Dizia o quê? Que o Vaticano estava procurando um novo CIO. Papa? Coisa do passado. Hoje em dia é o CIO do Vaticano.

Aliás, nunca sei o que é CIO, CEO, parece só um jeito de confundir quem vai tentar entrevista de emprego. Antigamente era melhor. O cara era chefe, e pronto. Hoje em dia você tem de saber a quem “se reporta”.

- Já falou sobre isso com o CDO?

- Não achei que fosse para tanto... Desculpe

- Fale logo, ou mandaremos uma RDA para ele e você acaba no olho da rua – digo, no ODR.

Aí o cara não pode mais ser romântico nem com a namorada. Tem que usar a inteligência emocional, mostrar seus potenciais, fazer ela perceber seu potencial empreendedor. Ela tem que acreditar que, no mínimo, você um dia vai ter uma sigla de que se orgulhar talvez um CIO. Ainda que não seja do Vaticano. Mesmo porque, convenhamos, nenhuma mulher quer se casar com um futuro papa.

Qualquer dia desses, até criança vai ter que se adaptar às novas regras. O menino chega em casa e não faz a lição de casa. Que hoje em dia deve ter um outro nome qualquer. Tipo “relatório de produção intelectual doméstica”. Ou RPID.

Dá até para imaginar a professorinha, ex-tia, hoje garbosamente gerente de turma, chamando os aluninhos à frente. Quem fez a RPID?

E os pais em casa também vão cobrar. Filhinho? Já fez a RPID hoje? Nos casos mais graves, podem ameaçar o Joãozinho de advertência, suspensão da mesada – digo, dos honorários infantis semanais – e imagina-se até uma demissão sumária do posto de filho.

E é capaz de o filho nem ligar.

- Já tinha uma proposta melhor mesmo...

Tem uns amigos meus que fizeram até uma versão desse mundo Você SA para vânadlos. Era um comercial de rádio que eles inscreveram em um concurso, para inibir o vandalismo.

Era assim: um grupinho de vândalos procurava o que fazer na rua, de noite. Aí um deles dizia: vamos quebrar o telefone público? O outro desanimava. Já quebramos ontem. Então vamos quebrar aquela vitrine. Não dá. Também já foi. É mesmo, já detonamos tudo por aqui. Então vamos pegar um ônibus e ir para outra parte da cidade quebrar as coisas lá. Aí um deles lembrava. Pois é, mas a parada é que a gente quebrou o ônibus ontem.

E aí vinha a mensagem em tom empresarial.

O locutor dizia:

Deprede com cuidado para poder depredar sempre.

Pena que o comercial não foi premiado...

Monday, May 23, 2005

Nosso único

Dalton Trevisan, possivelmente o único artista realmente de interesse para o resto do paíks que nossa província criou, faz 80 anos dia 14 de junho. Para quem quiser fazer uma homenagem, duas possibilidades. Há livros novos dele por aí: Rita, Ritinha, Ritona e 33 Contos Escolhidos. Outra sugestão é ver a peça Pico na Veia, no Guairinha. São contos declamados.

Tem trechos fantásticos, como a famosa descrição das putas do Passeio Público e o Curitiba Revisitada. Cidade de primeiro mundo? Cinqüenta buracos por habitante em toda calçada. Vale ver.

Pagando a conta

Aí a mídia vem com todos os cálculos: a Petrobras vai deixar de investir isso e aquilo na Bolívia. O Brasil deve ser mais cuidadoso com novos investimentos. Tudo porque os caras tiveram finalmente a coragem de dizer que o petróleo lá é deles. E quem quiser tem de pagar. Agora vamos querer nós ser os exploradores? Fazer o que reclamamos que fizeram e fazem com a gente?
A Petrobrás quer explorar o gás e o óleo bolivianos? Que pague quanto eles acharem justo. 50% é até pouco. Eles nos deram o privilégio de sermos a maior empresa no paios deles. Vamos retribuir pelo menos pagando um preço decente por isso.