Tuesday, March 15, 2005

Meu dia de George Bush

Fui ao Paraguai. Passei vergonha, antes de mais nada. Primeiro, por ter achado que o país deles era bem pior do que realmente é. Depois, por me sentir um imperialista tipo Bush ao chegar lá.

Fomos visitar o Palácio de Governo. Está incompleto até hoje, mais de 150 anos depois do início da construção. De um lado, as colunas têm ornamentos. De outro, não. Por quê? Porque o país foi invadido pelos brasileiros antes que o prédio estivesse pronto. Aliás, o guia contou que a primeira bandeir anacional a tremular no Palácio de Los López foi a verde e amarela. D. Pedro II foi um republicano, quem diria.

Li uma vez na Superinteressante que o Paraguai tinha mais ou menos o PIB do Piauí. E foi mais ou menos essa a sensação que tive. De estar visitando um estado pobre brasileiro. Eles são quase como uma extensão do Brasil. Assistem Globo – ou no cabo ou com novelas dubladas em espanhol. Consomem tudo da indústria brasileira, já que quase nada é produzido no país, sem indústrias. Amam os brasileiros, de quem dependem para injetar dinheiro e produtos no país.

A impressão que tive é que o fato mais importante da vida paraguaia é a longa fronteira que elestêm com o Brasil. Ciudad Del Este, a segunda mais populosa do país, vive do comércio de bugigangas chinesas para nosotros. Culturalmente, eles consomem tudo o que fazemos: ouvem axé, mpb, pagode, conhecem os nomes de nossos atores de novela. Só não temos mais domínio sobre eles pela barreia da língua. Nisso, eles têm mais proximidade com os argentinos, de quem parecem gostar menos.

O aspecto terceiro mundista que mais me impressionou foi a absoluta falta de indústria do país. Falaram que o Paraguai não produzia carros, que todos eram importados. Perguntamos a nossos guias. Eles disseram que não é apenas isso. Eles não produzem carros nem motos, nem uma única bicicletas. Quanto menos aviões e helicópteros. Ou seja, todos os veículos são necessariamente importados.

Continuei perguntando. Cosméticos? Não fazemos. Sapatos? Não fazemos. Indústria têxtil? Há uma, especializada recentemente em roupas de cama, mesa e banho. O resto, é tudo importado.

Exportação, só mesmo de produtos do campo: carne e soja, principalmente, pelo que eu entendi. Ou seja, resta um déficit imenso na balança comercial. Um economista explicou que eles compensam isso com superávit de capital. Ou seja, dinheiro que entra no país sem ser em troca de produtos. Por exemplo, o que mandam os paraguaios que decidiram tentar a sorte nos EUA ou em outros países. O dinheiro do turismo. O dinheiro que as poucas multinacionais lá instaladas – vi a Coca-Cola e a Unilever – deixam no país por ter muito menos impostos a pagar lá. E o dinheiro dos cassinos, por exemplo.
O impressionante é que 150 anos atrás o país parecia que ia ter um futuro brilhante. E fomos nós, em grande parte, que os transformamos em mascates de espelhinhos chineses e em importadores de quase todo artigo industrializado. A culpa não é inteiramente do Brasil, claro, mas dá uma certa vergonha ver que fizemos aos outros o que vivemos criticando quando lemos sobre o imperialismo alheio.

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